quinta-feira, 26 de maio de 2011

Mentiras, ocultações e ameaças

Mentiras, ocultações e ameaças
Gonçalo Bordalo Pinheiro
Director adjunto da revista SÁBADO

José Sócrates anunciou que iria fazer uma campanha eleitoral como a de Obama, à custa de voluntários; acabou por fazer uma mais parecida com a de Kadhafi, à custa de desgraçados. Em primeiro lugar, porque se preocupou em forjar. Na ausência de voluntários genuínos como os do Presidente dos EUA, o PS tratou de recrutar imigrantes pobres e fragilizados (indianos, paquistaneses, moçambicanos) para darem o seu apoio nos comícios em troca de comida.

Em segundo lugar, porque se empenhou em esconder. Quando os números da execução orçamental eram maus e mostravam que o Estado não conseguia reduzir a despesa, o Governo adiou pagamentos para ocultar os verdadeiros valores e anunciar uma falsa redução do défice na véspera do debate com Passos Coelho.

Finalmente, porque apostou em ameaçar. Desde o início da campanha, Sócrates é protegido por um grupo de vândalos com camisolas a dizer “Defender Portugal”.

Nos últimos dias, esse grupo (que confunde a defesa do líder com a defesa do País) envolveu-se em confrontos violentos com duas pessoas: um elemento de um blogue e um popular com um megafone. A direcção do partido poderia distanciar-se destas cenas. Mas prefere solidarizar-se.

É isto que nos deixa muito mais perto de uma tirania africana do que de uma democracia desenvolvida.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

País sem solução

È verdade, na primeira legislatura de Sócrates votei nele. Acreditei nas suas palavras e na sua bondade. Depressa me apercebi que de bondade não tinha nada e as palavras eram ocas e transformaram-se rapidamente em mentiras. Como toda a boa esquerda liberal, trabalham unicamente para os seus bolsos e dos seus apaniguados. Chegam ao cúmulo de dividirem o partido nos amigos e inimigos internos. Quem não é por mim é contra mim. Sócrates chegou ao limite da perseguição interna auxiliado por Almeida santos. Jamais lhe voltaria a dar o beneficio da dúvida. Mas se a tal loucura chegasse, bom, a respeito disto, eu iria ao ponto de fazer um contrato com o ainda PM: se ele estiver a dizer a verdade a gente pede-lhe desculpa; se estiver a mentir, paga os salários do bolso dele.
Na segunda hipótese, os contratados iriam talvez aterrar num problema: o PS, e a Esquerda em geral, costumam limitar a generosidade ao desbaratar do que não lhes pertence.
A extrema esquerda será uma solução?
Acho que estamos num País sem solução!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Dialéctica e politica

O objecto da estética é o belo artístico, criado pelo homem.

A propósito, Hegel distingue três dessas modalidades, a que correspondem, metafísica e historicamente, as três formas fundamentais da arte: arte simbólica, arte clássica e arte romântica. Para Hegel, a história da arte, do ponto de vista da filosofia, mostra que a arte simbólica está à procura do ideal, a arte clássica atinge-o e a romântica ultrapassa-o.

A evolução da arte reproduz a dialéctica da ideia infinita, que se nega ou aliena no finito, para negar a negação na síntese do finito e do infinito. A esse processo correspondem graus crescentes de interiorização do espírito, desde a arquitectara, arte do espaço vazio, mero receptáculo do divino, até à poesia, arte puramente interior ou subjectiva.

A nossa politica está assim, uns à procura do divino, para ver se se salvam deste pântano, outros na lírica e outros com uma subjectividade do real, de tal maneira profunda que ninguém os consegue entender. Falo do PS, neste último caso. Como pode um senhor que nos enterrou vivos ter a distinta lata de culpar todos os outros?

terça-feira, 10 de maio de 2011

Burrice à portuguesa!

Encontra-se agora em discussão o projecto politico de cada um dos partidos concorrentes às eleições legislativas. Cada português deve ter consciência que nenhum partido, dos que normalmente são eleitos, poderá fazer qualquer programa politico. Eles serão, quando muito, virtuais, porque este já está feito e pronto a ser, efectivamente, lançado. Falo do programa da "troika", dos nossos fornecedores de dinheiro vivo, que permitirá manter-nos vivos e a mexer. Existia uma solução, deixar-mos a zona euro e voltarmos ao nosso escudinho, que bem falta nos fazia nestas alturas. Mas a alavardice de querer ser aquilo que nunca fomos e por via de Mário Soares que gostava de ostentação e dos nossos governantes de outrora, cá estamos a pedir esmola. Depois veio este senhor, engenheiro de fim de semana, que gosta de viver como um rei, sim o José Sócrates, e então é o que se está a ver. E o zé povinho, levado na cantiga, ainda acredita na discussão dos programas dos partidos. Mais, acredita naquele que nos levou à bancarrota. Pobre povo, mas Nação Valente.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Foi muito porreiro, pá!

Foi muito porreiro, pá!Por:Miguel Alexandre Ganhão, Editor Executivo-Correio da Manhã

O tempo é de alegria. O primeiro-ministro anunciou que Portugal conseguiu "um bom acordo" com a troika. Os funcionários públicos, que terão as progressões e os salários congelados nos próximos três anos, estão felizes por conservarem o subsídio de Férias e o de Natal. Os reformados, que terão remédios mais caros e menos pensões, respiram de alívio com os 14 meses garantidos.

Os desempregados, que vão receber menos subsídio durante menos tempo, também devem estar satisfeitos. E os contribuintes devem dar graças... vão pagar mais IRS, mais IVA e mais IMI.

Mas são os bancos que devem mostrar maior gratidão, depois do indecente ultimato dado ao Governo. A torneira do dinheiro vai voltar a pingar (12 mil milhões) para reforçar os seus capitais próprios e para continuar a emprestar a quem quiser trocar de casa, comprar carro novo ou ir de férias para destinos exóticos.

Se as condições do acordo são estas, e são tão boas, imaginem como não seriam se tivéssemos pedido ajuda há um ano! O que tivemos de suportar das agências de rating! A humilhação dos mercados, que massacraram sem dó a nossa dívida soberana, mês após mês!

Mas Sócrates diz que conseguiu um "bom acordo". Porreiro, pá!

terça-feira, 3 de maio de 2011

O poder curativo dos professores

O poder curativo dos professores
João Ruivo | 2011-05-02

E é por isso que os docentes reclamam uma avaliação justa do seu desempenho. Uma avaliação em que se revejam, que os estimule a empreender e que os ajude no seu crescimento profissional.

Ser professor acarreta uma profunda carga de utopia e de imaginário. Com o lento passar do tempo e da memória coletiva, gerações após gerações ajudaram a elaborar a imagem social de uma profissão de dádiva absoluta e incontestável entrega.

O poder simbólico da atividade docente leva a que os professores sintam sobre os seus ombros a tarefa hercúlea de mudar, para melhor, o mundo; de traçar os novos caminhos do futuro e de preparar todos e cada um para que aí, nesse desconhecido vindouro, venham a ser cidadãos de corpo inteiro e, simultaneamente, mulheres e homens felizes. É obra!

Ao mesmo tempo que a humanidade construiu uma sociedade altamente dependente de tecnologias dominadoras, transferiu da religião para a escola a ingénua crença de que o professor, por si só, pode miraculosamente desenvolver os eleitos, incluir os excluídos, saciar os insatisfeitos, motivar os desalentados e devolvê-los à sociedade, sãos e salvos, com certificação de qualidade e garantia perpétua de atualização permanente.

O emergir da sociedade do conhecimento acentuou muitas assimetrias sociais. Cada vez é maior o fosso entre os que tudo têm e os que lutam para ter alguma coisa; entre os que participam e os que são marginalizados e impedidos de cooperar; entre os que protagonizam e os que se limitam a aplaudir; entre os literatos dos múltiplos códigos e os que nem têm acesso à informação.

E é este mundo de desigualdades que exige à escola e ao professor a tarefa alquímica de homogeneizar as diferenças.

Os professores podem e estão habituados a fazer muito e bem. Têm sido os líderes das forças de sinergia que mantêm os sistemas sociais e económicos em equilíbrio dinâmico. São eles que, no silêncio de cada dia, e sem invocar méritos desnecessários, evitam que muitas famílias se disfuncionalizem, que as sociedades se desagreguem, que os estados se desestruturem, que as religiões se corroam.

Mas não podem fazer tudo. Melhor diríamos: é injusto que se lhes peça que façam mais.

Particularmente quando quem o solicita sabe, melhor que ninguém, que se falseia quando se tenta culpabilizar a escola e os professores pelos mais variados incumprimentos imputáveis ao sistemático demissionismo e laxismo das famílias, da sociedade e do próprio estado tutelar.

É bom que se repita: os professores, por mais que se deseje, infelizmente não têm esse poder curativo. Dizemos infelizmente porque, se por milagre o tivessem, nunca tamanho domínio estaria em tão boas e competentes mãos.

E é precisamente porque nunca foram tocados por qualquer força divina que os professores, como qualquer outro profissional, também estão sujeitos à erosão das suas competências; que, como qualquer técnico altamente qualificado, também necessitam de atualização permanente. E é por isso que os docentes reclamam uma avaliação justa do seu desempenho. Uma avaliação em que se revejam, que os estimule a empreender e que os ajude no seu crescimento profissional.

Todas as escolas preparam impreparados. Até as que formam professores. Sempre foi assim e, daí, nunca veio mal ao mundo. É a sequência e a consequência da evolução dialética das sociedades e das mentalidades.

Por isso, centrar a discussão na impreparação profissional dos docentes, como se tal fosse estigma exclusivo desta classe e justificasse as perversas iniciativas que lançam a suspeita pública sobre a responsabilidade ética dos educadores no insucesso do sistema educativo e no desaire das políticas educativas que não têm vindo a sancionar, isso, dizíamos, traduz uma inqualificável atitude de desprezo pela verdade e pela busca de soluções credíveis e partilhadas.

Admitir que a educação pode resolver todos os problemas e contradições da sociedade, resulta em transformá-la em vítima evidente do seu próprio progresso.

Repetimos: os professores não têm esse poder curativo. Os docentes não podem solucionar a totalidade dos problemas com que se confrontam as sociedades contemporâneas, sobretudo se não tiverem os contributos substanciais dos outros agentes educativos e das forças significativas da sociedade que envolvem a comunidade escolar.

Evidentemente que a escola e os professores podem e devem contribuir para o progresso da humanidade e para o seu desenvolvimento político, económico, social e cultural. Porém, tal não é atingível apenas com meros instrumentos educacionais porque eles, por si só, não são capazes de estilhaçar o mundo de crescentes desigualdades e uma cúpula política sob a qual coexistem a injustiça, o desemprego e a exclusão social.

Os professores não têm esse poder curativo e, por favor, não os obriguem a ser mais do que são ou nunca serão o que o futuro lhes exige que venham a ser.